sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Poluição Atmosférica e a Construção Civil

A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E A CONSTRUÇÃO CIVIL

Os "fãs" do cimento gostam de dizer que ele é a substância mais utilizada no mundo, depois da água. Infelizmente, ele também é uma das mais poluidoras. A fabricação de cimento é responsável por cerca de 5% das emissões mundiais de gases estufa (duas vezes a quantidade atribuída à aviação).

O cimento é feito aquecendo calcário e argila até eles se fundirem em um material chamado escória do cimento, que então é misturado com vários aditivos. O problema é que o aquecimento e as reações químicas liberam grandes quantidades de dióxido de carbono, contribuindo para o aquecimento global.

Nas vizinhanças de fábricas de cimento, podemos notar os efeitos da poluição devido ás atividades das mesmas. Os telhados das casas, as árvores, as terras encontram-se cobertas por uma película, com maior ou menor espessura, de poeira de cimento, além disso, partículas de menores dimensões são levadas pelos ventos para distâncias mais afastadas das fábricas, atribuindo assim, às fábricas de cimento grande responsabilidade pela presença de silicatos na atmosfera.


Para além de inundarem os arredores de poeiras de silicatos, as fábricas de cimento são responsáveis pela emissão, entre outros, do dióxido de enxofre e de óxidos de azoto, que conjuntamente com os óxidos de carbono, os aldeídos, os hidrocarbonetos gasosos libertados pela combustão incompleta dos hidrocarbonetos líquidos, são as principais “matérias primas” da poluição atmosférica.


Na cidade de Vespasiano, perto de BH, as atividades de uma fábrica de cimento passou a incomodar diretamente os moradores.

Veja a notícia:

A resolução 382 do Conama - Conselho Nacional do Meio Ambiente regulamenta 13 tipos de fontes que emitem poluentes, entre elas estão os fornos de cimento.

Como solução de curto prazo e de efeitos locais, fábricas de cimento têm se instalado afastadas das cidades. Porém, isso além de não resolver o problema das emissões de gases e partículas poluentes na atmosfera, muitas vezes pode até aumentar outros problemas não só relacionados com a poluição atmosférica (como desmatamento em áreas próximas a rodovias, poluição de rios, e até o aumento na emissão de poluientes atmosféricos devido ao maior movimento de veículos utilizados pelas fábricas de cimento).

Uma solução mais efetiva é o uso das técnicas de bioconstrução (ou bioarquitetura).

A bioconstrução é uma técnica de arquitetura e engenharia que busca utilizar materiais naturais, reciclados e energias não-poluentes para construção de casas, assim, além de diminuir o uso de cimento e assim minimizar os efeitos da construção civil na poluição atmosférica, a bioconstrução pode ser também uma das soluções para outros problemas ambientais como lixo e energia.

Além dos benefícios ambientais, a bioconstrução também oferece conforto e baixo custo.

Em Florianópolis, blocos de concreto feitos a partir de conchas de ostras e mariscos já estão sendo usados.


Porém, essa não é a única solução e muito menos a solução global para a questão da poluição devido à construção civil. Não seria conveniente adotar essa alternativa em regiões distantes do mar, pois assim além do custo, o transporte para essas áreas não-litorâneas aumentaria as emissões de gases poluentes na atmosfera.

Uma outra alternativa seria a construção de casas utilizando o chamado Superadobe que nada mais é que a compactação de terra local em sacos de polipropileno. Depois disso, sobrepõe-se os sacos já compactados até a altura desejada da parede da casa, se faz isso colocando também arame farpado entre eles para que eles se mantenham unidos.

Em seguida, basta ‘descascar’ as laterais dos sacos e fazer o acabamento. Além do resultado ter um bom valor estético, as casas construídas com superadobe oferecem conforto em relação à temperatura tanto no inverno como no verão, são resistentes e de fácil, rápida e barata construção.

Essa técnica também é segura, uma vez que não permite que as paredes da casa apresentem fendas e portanto não possibilita a presença de insetos (como o temido barbeiro – quando o assunto é casa de biomateriais).

A técnica, que já recebeu a aprovação das autoridades do departamento de habitação de uma cidade que fica sobre a linha da falha geológica da Califórnia,foi desenvolvida pelo iraniano Nader Kalili e sua equipe.

Uma solução ainda mais completa, que abrangeria até mesmo outras questões ambientais, que não a poluição atmosférica devido à construção civil, são os chamados EarthShips.

São casas ‘auto-sustentáveis’, construídas com pneus, latas, garrafas e terra e possuem sistemas alternativos utilizados dentro da casa para que esta não fique ligada a redes elétrica, de esgoto ou de água.



Esses EarthShips são construídos com materiais de acordo com a localidade, para oferecer assim maior conforto com relação a temperaturas e maior resistência quando necessário. As paredes da casa são construídas a base de borracha de pneus preenchidos com adobe (terra, água e palha) e compactados. Esses pneus preenchidos são empilhados de modo a gerar as paredes da casa. Entre os pneus, utiliza-se adobe e/ou massa (com cimento) para que esses se mantenham unidos.


Em algumas paredes pode-se usar também garrafas de vidro, o que permite a entrada de luz no interior da casa.


Para se aprofundar mais no assunto, clique no link abaixo e leia a cartilha que explica os processos de construção e exibe até os designs elaborados para os Earthships.

http://www.owaze.nl/pdf/owaze_translation_portugal.pdf

Uma importante observação acerca dessas bioconstruções é o resultado estético. Inicialmente pode parecer algo superficial, porém a estética num tipo de construção não deixa de ser importante principalmente quando se trata de uma novidade. A construção pode ser segura, barata e ecologicamente correta, mas se não tiver uma boa aparência ninguém quer! E assim, seria difícil popularizar as casas construídas por bioconstrução.





Mas muitas vezes também não dá para adaptar uma bioconstrução aos moldes estéticos a que estamos acostumados. Assim, uma forma de valorizar as bioconstruções e acabar de vez com o preconceito existente sobre elas seria fazer com as elites passem a adotar esse tipo de moradia. Isso não significa aumentar os custos/preços das casas, mas é uma forma de mostrá-las às pessoas tentando acabar com a idéia de que bioconstrução é apenas para casas populares.

As alternativas citadas não resolvem o problema da poluição atmosférica que, como já falado anteriormente, tem ‘apenas’ cerca de 5% das emissões de CO2 sob responsabilidade das fábricas de cimento. Porém, essas soluções são ótimas alternativas que, combinadas com muitas outras tanto faladas como uso de biocombustível entre outros, podem reduzir muito a poluição atmosférica mundial.

O interessante é que em busca de uma solução para um determinado problema ambiental (poluição atmosférica, por exemplo), encontramos soluções para problemas sociais, econômicos, outros problemas ambientais entre muitos outros. Ou seja, não importa o que fazemos, em se tratando de meio ambiente, devemos sempre pensar de maneira global.

Nenhum comentário: